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07/10/2016 ARMAZÉM DO ADÃO GAÚCHO | Equipe Não Empurra
Como é bom lembrar de fatos do nosso comércio local que nos deixaram saudades, mesmo que, infelizmente, esse estabelecimento esteja fechado.

No ano de 1988 eu tinha apenas 15 anos de idade e trabalhei no Armazém Gaúcho, do meu amigo, já falecido, Adão de Fraga. Foi o meu primeiro emprego fixo. Para quem não sabe o comércio dele ficava ali na Marechal Floriano Peixoto, ao lado da sinaleira, onde hoje está localizada a Padaria Santa Cecília. Era bem forte em Santo Antônio da Patrulha o armazém do Adão: tinhapadaria, açougue e ferragem. Vendíamos bastante para os moradores da sede e interior do município, já que a localização da rodoviária da cidade alta facilitava o transporte das mercadorias até os ônibus.

Uma coisa que existia na época era a confiança nas pessoas, uma vez que se vendia bastante por caderneta. As pessoas faziam seus ranchos ou as compras do dia a dia e nós anotávamos de caneta no caderninho que carregavam consigo. E, por incrível que pareça, essa confiança era mútua. Os valores anotados não eram rasurados, as folhas não eram arrancadas e, se o caderno fosse extraviado, o Adão cobrava o valor gasto no mês anterior, já que sabíamos“certinho” a média que cada família gastava por mês. Essa caderneta se parecia com o “cartão de crédito” dos clientes.

O meu amigo Adão estava sempre alegre. Gostava de tocar uma viola e pescar na Lagoa dos Barros. Inclusive, tinha casa de veraneio naquele balneário. E foi ali no armazém que comecei a despertar o interesse pela música, pois sempre à tardinha, antes de fechar, se reuniam alguns violeiros da cidade para tocar uma boa moda de viola - e eu ficava até o final do expedientedeliciando-me com aquelas melodias cantadas em primeira e segunda voz.

Um fato muito curioso na época foi quando começou a sumir ferramentas de dentro da ferragem. Às vezes era chave de fenda, alicate, enxada, picareta e pá de corte sem cabo. Coisas pesadas e grandes que não podiam passar despercebidas por nossos olhos. Levamos mais de três meses investigando e nada deencontrar o malandro. Cuidávamos todos que entravam e saiam de dentro do mercado.

O tempo ia passando e o ladrão continuava cometendo o delito, porém um dia deixou cair a própria máscara. Quando o roubo foi descoberto, não acreditamos que era aquela pessoa. Nos deixou perplexos e com uma vontade de dar uns ponta pés no traseiro dele; porém o Adão era uma pessoa tranquila e resolveu não mexer com a questão - nem na delegacia foi. O meliante morava no interior do município e era vendedor de queijo caseiro. Entregava o produto numa sacola bem grande,com aproximadamente dez quilos por semana. Depois de esvaziá-la, devolvíamos para o rapaz fazer compras e levá-las no final da tarde para casa. Após, pedia para ir ao banheiro que ficava no fundo da ferragem.Gostava de dar umas voltas por Santo Antônio e à tardinha pegava sua sacola que havia deixado próximo ao sanitário.

Passamos a desconfiar dele também, mas ao sair para pernear revistávamos a sacola e nada. Quando ele chegava da rua, pedia para ir ao banheiro novamente e era o momento que colocava na sacola as ferramentas roubadas. Nós, como já tínhamos feito a revista, não olhávamos novamente. Mas a sacola do vendedor de queijo estava ficando velha e, certo dia, ele roubou tanta ferramenta que ficou pesada demaise,ao sair do mercado, já na calçada, o fundo da sacola caiu, dando um estouro de ferramentas no chão.Saímos na rua e pegamos o ladrão que tanto procurávamos. Quando ele nos viu começou a correr desesperadamente e nunca mais apareceu.

Bons momentos passei no Armazém Gaúcho. Infelizmente hoje acabou aquela confiança entre comerciante e cliente. Tudo gira em torno do cartão de crédito ou no dinheiro, mas aquele respeito e honestidade trago até hoje para minha vida.

Autor: Maurício da Luz Collar