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07/10/2016 O NOSSO JEITO DE SER | Equipe Kebra Kexo
A cidade de Santo Antônio enfrenta um paradoxo em seu calendário festivo. Ora, aqui festejamos todos os santos e padroeiros do calendário, quem quiser pode comer todo fim de semana em um salão paroquial pois, pelo interior do município, sempre haverá algum festejo a ser executado. Onde reside o paradoxo? Justo no dia de Santo Antônio, o santo que dá nome à cidade, existe uma evasão da população. O povo sai da cidade no dia de festejar seu próprio santo.

As lojas da cidade apresentam uma variedade de artigos, nosso comércio é bem variado. E é interessante perceber que os lojistas usam de criatividade para buscar clientes. Assim, vai ter aquela madeireira que abre nos fins de semana e atende as necessidades de quem precisa cimento, areia, fio elétrico, lâmpada e outras mercadorias num sábado às cinco da tarde.

Existe a farmácia que fica aberta até a meia-noite, atendendo as dores e tosses de quem só lembra da sua doença após o anoitecer. Existe a doutora que atende seus pacientes de consultório mesmo em sábados de manhã. Ou seja, o comércio e os prestadores de serviço oferecem variedades nas suas atividades buscando sempre bem atender.

Assim, observo consternado o dia de Santo Antônio. Sim, o dia 13 de junho, que deveria ser um marco de festividades locais. Um dia em que se poderiam fazer inúmeras atividades, encontros em parques e praças, jogos, dia de brique na avenida, oficinas literárias, aulas de skate, apresentações musicais.

E sei que muitas coisas são feitas nesse sentido. Observo mesmo as iniciativas das comunidades, das autoridades, em valorizar nossa data maior. Só que a população não se identifica muito com isso. O que vemos então?

No dia 13 de junho, os patrulhenses acorrem em massa à free-way, a gente vai indo na estrada já de manhã, em direção a Porto Alegre, e reconhece nos outros carros, pessoas aqui da cidade indo para o mesmo lado. É uma espécie de corrida organizada, uma evasão coletiva. A gente se buzina na estrada, ri, a toca em frente.

E as lojas do shopping, ah aquelas lojas tão movimentadas e diferentes. E a gente experimenta, e pede, e compra, e faz prestações e afunda no cartão de crédito, pelo simples fato de estar longe da cidade. E aquelas mesmas pessoas que se avistaram na estrada agora se esbarram nos corredores desses imensos centros de compras. A gente está ali atarantado, enxerga um “rapadura”, sorri amarelo, continua a caminhada. Anda mais um pouco, vê outro conhecido, tapinha nas costas, vamos em frente.

Entra no cinema, quem está ali já sentado? Outro conhecido patrulhense. Entra no supermercado, se depara com uma família da Miraguaia e exclama: - Mas afinal, quem ficou cuidando da cidade? Pois é, quem ficou cuidando da nossa cidade? Acho que só mesmo o próprio Santo Antônio!

Talvez o que explique essa procura que fazemos longe aqui da cidade justamente na sua data maior seja a correria do dia-a-dia. Cansados que estamos das ocupações triviais, da tranqueira na avenida na hora do almoço. Cansados das obras de esgoto que conseguiram esburacar toda a cidade. Cansados da mesmice, do sentimento de atraso em relação a outros municípios que nos rodeiam, cansados de tudo isso, buscamos refúgio em ambientes diferentes. Queremos quebrar nossas rotinas.

Ir a festa de sala paroquial já entrou na rotina. Ficar em casa no 13 de junho cortando grama ou fazendo pequenos consertos também virou rotina. O povo daqui quer novidade e vai embora!

Não há pecado nisso. Cada um vai onde quiser no dia que bem entender. Apenas gostaria que soubéssemos valorizar mais a nossa data maior, ficando por aqui para festejar. Até porque, os shoppings ficam abertos o ano todo. Mas 13 de junho é um dia só.
Autor: Silvano Fonte Marques