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20/04/2009 Lula gasta com pessoal o que poupa com juros
O governo federal usou praticamente toda a economia que teve com a queda dos juros desde 2006 para reforçar sua própria estrutura e aumentar o salário do funcionalismo público. Pouco foi feito para elevar os investimentos, necessários para permitir que o país cresça sem solavancos.

É o que revela estudo feito pelo economista Alexandre Marinis, sócio da consultoria Mosaico, a pedido da Folha. Entre abril de 2006 e fevereiro de 2009, os gastos anuais do governo central com juros caíram cerca de R$ 40 bilhões. No mesmo período, as despesas com pessoal subiram iguais R$ 40 bilhões, e as de custeio, R$ 26,7 bilhões. Já as despesas de capital -os investimentos propriamente ditos- aumentaram apenas R$ 14,7 bilhões.

O mês de abril de 2006 foi escolhido como marco inicial do estudo por duas razões. Naquele mês, o governo central registrou o pico do pagamento de juros acumulados em 12 meses. Também foi a partir de abril de 2006 que o governo acelerou a contratação e intensificou os reajustes salariais.

Ou seja, o aumento de gastos com funcionalismo e custeio não foi produto de um simples crescimento vegetativo e involuntário da máquina, mas, principalmente, do voluntarismo oficial.

Entre 2003 e 2005, nos três primeiros anos do governo Lula, o crescimento médio anual da folha de salários federais foi de apenas R$ 7 bilhões. Entre 2006 e 2009, esse aumento pulou para R$ 13 bilhões ao ano.

"A política econômica do segundo mandato do presidente Lula está sendo marcada não só pela queda dos juros, mas também pelo maior ciclo de contratações e de aumentos salariais ao funcionalismo de que se tem notícia", disse Marinis.
Nos 12 meses entre maio de 2005 e abril de 2006, a Selic média estabelecida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) foi de 18,5%. Já nos 12 meses entre março de 2008 e fevereiro de 2009, a taxa caiu para 12,8% -uma redução de 5,7 pontos percentuais.

O levantamento ganha relevância com a perspectiva de novas quedas da taxa Selic até dezembro. Se a taxa média, acumulada em 12 meses, cair de 12,8%, hoje, para 10% no fim do ano, como prevê o mercado, estima-se em R$ 20,3 bilhões a redução do custo da dívida do governo federal.

"Esse valor equivale à metade dos ganhos já ocorridos com a queda dos juros desde 2006", disse Marinis. "Pela experiência recente, esse dinheiro não deve ir para investimentos. Os juros não são o único vilão das contas públicas. Sua redução não garante, necessariamente, o aumento dos investimentos."
Além dos gastos de custeio e da folha, as despesas com benefícios previdenciários também aumentaram mais do que os investimentos entre 2006 e 2009: R$ 51,8 bilhões.

Fonte: Folha de São Paulo, 20/04/2009